segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A Flama

feliz Natal. beijos.

A Flama,

A chama que seduz,
e clama,
insana conclama
a dama
que amalgama
a própria
lama.

A dama
que embalsama
a mama,
que por baixo da escama
sufoca a própria brama.

Acama,
e nem se quer por um miligrama
de corpo reclama,
pois ainda se esparrama
e difama
e trama
o alheio drama.

E a flama
inflama
a torpe mucama
que pela rama
viveu na cama
e nada proclama,
pois nem o próprio diagrama
verdadeiramente ama.

Rafael Souza Barbosa.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Mrs.Teresse

Hoje vou postar uma pequena cena. um bom final de semana a todos, boa noite, boa sorte. beijos.
*
Mrs.Teresse,
*
Há algumas horas, ela dançava entusiasmadamente em um salão moderno; ela dançava delicadamente, como um narciso balançado pelo vento. Seus olhos brilhavam, seu vestido brilhava; ela era toda luz, ora a dançar, ora a flertar com senhores em seus ternos escuros. Sua beleza era realçada com um arquear de sobrancelhas; ela possuía um olhar determinado, profundamente interessado por aquilo que enxergava. Cada passo, cada gesto despretencioso indicava um espírito, uma alma infinitamente livre – ela era verdadeira em si mesma. Sua estabilidade, sua segurança, era oriunda de séculos atrás; ela, pois, herdara essas características de sua avó, de sua mãe, senhoras certas de suas posições, crentes em suas concepções. Com um sorriso, com uma taça à mão, ela exercia habilmente sua capacidade de ser oportuna, extremamente polida sem enfado; ela era a salvaguarda de uma ordinária e habitual convenção social. Talvez, como conseqüência de sua notável presença, ela fosse a preferida de de mr.Fontaine, um cobiçado cavalheiro, abastado e atraente.
“Olá, mrs.Teresse.” ele havia dito há poucos instantes.
“Ah,” ela se virou graciosamente, com uma taça à mão e um sorriso nos lábios “olá, mr.Fontaine.”
“Eu acho que comentei que você poderia me chamar de Tristan, assim como eu a chamo de Teresse.”
“Ah, comentou, sim, mr.Fontaine.” Percebendo o equívoco, ela retifica, com um arquear de sobrancelhas e uma piscadela admirativa “Mas, mr.Tristan, está gostando da festa?” Interessantemente, ela, às vezes, recorria a diálogos triviais demais, sem se desmerecer.
“Uma típica festa de Rowena – pianistas, bebidas e Londres.” Ele comenta ironicamente.”
“Ah, também acho que a mrs.Drake convida pessoas em excesso.”
Ela, conforme a conversa se desenvolvia, tornava-se ainda mais interessante – era isso que mr.Fontaine realmente prezava, a incrível capacidade que Teresse tinha de compreender o que diziam, de prosseguir promissoramente o diálogo, diferentemente daquelas mulheres estúpidas que sorriam vagamente, enfadonhas.
“Não é somente eu, então, que me sinto sufocado entre tantos trajes negros.”
“Não afirmaria com tal veemência, mesmo concordando;” aproxima-se do ouvido de Tristan, num ato de cumplicidade “essas pessoas, porém, acostumaram-se de tal forma a essas festas que nem se preocupam mais – é o trabalho de beber gratuitamente e discutir amenidades.”
Ele achava realmente fantástica sua facilidade para ser sincera e impessoal.
“É, então volto a sentir-me sozinho.” Sorri, realçando sua doce altivez.
“Londres, essas grandes reuniões, essas inúmeras pessoas, constituem o melhor contexto para sentir-se sozinho.” Ela transforma seu sorriso, sem perder a ternura. “E, agora, deixar-lhe-ei um pouco mais sozinho.” Ela acena graciosamente; havia visto mrs.Bell passar, mas a alcançaria facilmente.
Enquanto Teresse se afastava, ele pensava no que seus olhares e sorrisos tentavam exteriorizar; ele pensava na sua atipicidade, ele pensava em como ela o cativava facilmente só por ser ela mesma, extraordinária. Tristan estava feliz, realizado, pleno – ela não lhe deixara mais sozinho.

sábado, 8 de dezembro de 2007

O Objecto Abjecto

um bom final de semana a todos. abraços.

O Objecto Abjecto,

Há algo involucral que fremi e perturba.
Amalgamado, há algo que persegue.

Mantemo-nos em fuga, esgueirando
furtivamente pelos nossos vãos.

O constante subterfúgio é o que nos
Impulsiona, que tolda as cinzas das horas.

Somos rápidos, somos fortes;
somos vulneráveis, somos frágeis.

Durante a fuga, tentamos distender
a massa indivisível, dissolvê-la.

Nossa essência também se distende,
e se perde, e se degrada ao passo de.

Temos de voltar, temos de recuperar
nosso ser mais profundo, temos de
reaver aquilo que sem não sobreviveremos.

Temos de mesclar o sentimento de forma que
ele se torne vivível, que se acople à substância
de forma não nociva, que se torne tolerável.

Não mais esmorecimentos, não mais esquivas
exasperantes, infindáveis – não mais objecto abjecto.
Um indício de quietude, a paz dos mortos pré-vida...

Comum a nós, reconhecível em nós,
o pulsar primitivo que nos permite compreender,
compreendermos a mim, a ti – compreendermos a nós.

A força selvagem que nos torna humanos.

Rafael Souza Barbosa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Orquestra Desarmônica


O mundo é uma orquestra.
Cada um de nós,
Somos os instrumentos
Os instrumentos estão
Tocando tonalidades
Pelas quais estão sendo
Atraídos.
Alguns estão surdos.
Estão fora da tonalidade
Que todos deveriam estar
Tocando.
Há harmonia em
Uma parte da orquestra.
A outra parte não está
Ouvindo bem.
Outros estão desobedecendo
O maestro.
Ouvir, ouvir e sentir.
É necessário para que
Haja completa harmonia.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Escaparemos do "nada"?

Um dia todos nós nos tronaremos cinzas de nosso próprio eu! É, é um texto estilo Barroco, mas que importa? Não seremos, nós, apenas 50% luz, coisas boas e etc e 50% terror, sombra escuridão?
É natural evitarmos pensar que morreremos como todos os outros, nossa tendência é nos imaginarmos especiais, com poderes sobrenaturais e não sei o quê. E ainda reclamamos quando uma criança, brincando de super-herói, atrapalha nossa tão mais importante fofoca com a vizinha.
Hoje acordei irritada, revoltada. E quando isso acontece, não meço minhas palavras, afinal, eu sou mais importante que todo mundo e todo mundo é mais importante que eu. Mas, na minha cabeça, apenas eu sou mais importante que todo mundo, a 2a parte não interessa.
Até eu perceber que toda essa minha importância, se reverterá em cinza, em sombra, em NADA! NADA, NADA, NADA! O "nada" ainda ecoa em minha cabeça, com suas milhões de micropartículas de som de "nada" em minha cabeça.
Olhamos para um mendigo e pensamos com orgulho no que nos tornamos- o que, claro, é uma grande comparação. Pensamos nos nossos sonhos realizados, no nosso conforto e etc, e olhamos entre orgulhosos e penosos para o ser que ali habita, deitado, com frio, com fome, com sede, bêbado e sem esperanças.
Há aqueles que acreditam em céu e inferno, aqueles que acreditam na vida após a morte... até aqueles que, simplesmente, não acreditam, mas todos se julgam os donos das verdades absolutas, como se nós, seres humanos, tivéssemos a capacidade e a responzabilidade de carregarmos um fardo tão pesado, mesmo sabendo que, só por levantarmos cedo, já reclamamos de 1001 coisas que nem sabemos direito quais são e o por quê da reclamação.
E, pra finalizar eu pergunto aos meus tristes leitores: mesmo se um dia beeem remoto tivermos toda a verdade em nossas mãos, formos os donos da verdade, escaparemos do "nada"?
*Eu avisei que era um texto estilo Barroco, donos da verdade*


Sara Carra

Uma Ave sem Destino



Sou um pássaro que voa sem destino. Tenho poder para controlar minhas asas, mas não para controlar para onde vou.
Não tenho domínio da minha vontade, por isso, ela me domina. Sou levado pelo vento sem fazer idéia para onde. Sob mim, há apenas o azul das águas. Sua beleza estende-se pelo horizonte. Quanto mais me distancio, mais o brilho do sol aproxima-se de mim.
A claridade escurece minha visão. Agora já nem vejo onde estou. Devagar minhas asas se fecham. Com rapidez desço e ao aproximar-me do solo, elas se abrem novamente. Não sei onde pousei, mas a terra é fofa. Caminho e apesar de não poder ver, percebo que se trata de uma montanha.
Quando surge a noite, volto a ver. Na escuridão, eu estou perdido e sem saber para onde ir. O silêncio e o frio me fazem companhia em vão. A solidão que sinto é mais forte que qualquer consolo.

Sábado Ou Domingo

Acabei há pouco o texto abaixo e resolvi postá-lo. Não encontrei alguma categoria textual para enquadrá-lo, então o deixo como um pequeno monólogo. Bom começo de semana a todos.
*
Sábado ou Domingo
*
A massa disforme de corpos em movimento contínuo oprime meus movimentos. As listras brancas estão cobertas por pés em passo ininterrupto, a marcha dos organismos vivos encobre todo e qualquer vão de chão tangível - eu estou imóvel enquanto observo o andar compassado da multidão. As cores que passam, múltiplos matizes discrimináveis, tingem a paisagem abastadamente, preenchendo-a com borrões hipnotizadores de variados corpos - eles me seduzem, eles me atraem para o meio daquela constante desordem.
Minha forma corpórea é impelida para a enorme aglomeração enquanto minhas pernas começam seu movimento frenético de seguir em frente. Eu sorrio por instantes, o calor da profusão de corpos faz-me sentir seguro, afasta a sensação fria de um dia de inverno. Um dia de inverno - sábado ou domingo? Não saberia dizer sem raciocinar sobre os dias anteriores. Intrinsecamente, não me importava o dia exato. Era um dia qualquer, mais um dia; o dia. Se eu me reportasse ao que vivia, a discriminação nominatória deles não faria algum sentido verdadeiro: eram nomes. Nomes que surgem, sucedem-se e repetem, sem alguma significação verdadeira. Nem ao menos o próprio domingo pode ser considerado significativo. Eram somente nomes que estabeleciam uma ordem e referência; não para mim. Havia me despojado daquele traço de civilização, começara a encarar aqueles períodos claros e escuros como um bloco contínuo de condições. O dia sucedia a noite e a noite sucedia o dia em ciclos circulares que nunca acabam. Às vezes, a roda aumenta ou diminui a rotação, mas nunca deixa de rodar da mesma forma. Penso que esta sucessão não passa de um reflexo da própria vida: a multidão anda em dada cadência, que diminui e acelera conforme algo indefinível, e acaba por estagnar em um marolar imutável. Isso me ocorre talvez por minha vida ser assim: é fado a tentativa de impor aos demais a própria condição em uma tentativa de reconhecimento. Eu tento reconhecer minha condição sem me afastar da realidade coletiva, buscando em outros indivíduos as mesmas características que me atormentam como forma de justificação – a justificação individual não possui intensidade suficiente para se manter e consolidar. Busco ir do individual para o coletivo como forma de sufocar o questionamento de forma que a existência se torne mais palpável e menos desenfreada – ir para o comum é um modo de garantir o controle e compreensão.
Agora, deixarei que meu corpo tome parte à profusão. Quero deixar que ele suma em meio a esses matizes para que eu encontre na totalidade a substância de existir que me falta – quero que a justificativa imparcial da multidão me circunde e contenha de forma com que eu consolide a minha vida com a consistência de uma verdadeira definição. Quero me submeter ao passo vulgar de forma com que a sua verdade seja a minha verdade, de forma com que eu possa me justificar de forma saciável e única.
Agora, eu me abandono do indivíduo como um corpo coletivo, destituindo-me de toda e qualquer subjetividade.