domingo, 16 de setembro de 2007

Primeiras palavras -O prazer de ler

O Clube de Literatura do CMPA, que iniciou sua atuação em março do corrente ano, constitui-se num espaço especial para quem ama literatura e deseja compartilhar desse amor com outros colegas. Talvez seja surpreendente que, num mundo com as mais diversas formas de comunicação, cada vez mais aperfeiçoadas, o livro ainda resista. Há correntes que pregam a morte da literatura escrita, porém não acredito que isso ocorra, por uma simples razão: nada substitui a viagem imaginária proporcionada por um livro,nada nos coloca mais em contato com nós mesmos do que as palavras escritas, do que as experiências vividas ou imaginadas por escritores geniais ou, talvez, não tão geniais, mas sensíveis e capazes de nos transmitir suas emoções e pensamentos. A leitura nos propicia reflexões sobre a vida, além de interação com o outro, enriquecendo-nos mental e espiritualmente. Essa interação com o outro possibilita conscientização e discussão de problemas e dificuldades, superação de incertezas e angústias, oportunidade de crescimento, e vai constituindo uma rede que torna as pessoas mais próximas, mais unidas. As pessoas poderão, inclusive, tornar-se mais felizes e realizadas através das perspectivas e caminhos que a leitura proporciona.
Inúmeros escritores já abordaram a importância e a abrangência da palavra, porém há um poema de João Cabral de Melo Neto que pode sintetizar de forma metafórica essa visão. Como uma mensagem de boas-vindas ao blog do Clube de Literatura do CMPA, desejo compartilhá-la com os leitores, esperando que a teia agora iniciada se amplie e se fortifique cada vez mais, passando de uma cantor isolado para um grande coro que cante em uníssono por um mundo melhor.
TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
( a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Maria Izabel da Silveira - Orientadora

Um comentário:

Rafael Barbosa disse...

"e assim nos aproximamos mais uns dos outros, aproximamos mais de nós mesmos - aproximamos mais de tudo que compõe.

e tudo é um jogo de aproximações, querida, corpos apartados em comunhão de espírito."


:)