sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Mrs.Teresse

Hoje vou postar uma pequena cena. um bom final de semana a todos, boa noite, boa sorte. beijos.
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Mrs.Teresse,
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Há algumas horas, ela dançava entusiasmadamente em um salão moderno; ela dançava delicadamente, como um narciso balançado pelo vento. Seus olhos brilhavam, seu vestido brilhava; ela era toda luz, ora a dançar, ora a flertar com senhores em seus ternos escuros. Sua beleza era realçada com um arquear de sobrancelhas; ela possuía um olhar determinado, profundamente interessado por aquilo que enxergava. Cada passo, cada gesto despretencioso indicava um espírito, uma alma infinitamente livre – ela era verdadeira em si mesma. Sua estabilidade, sua segurança, era oriunda de séculos atrás; ela, pois, herdara essas características de sua avó, de sua mãe, senhoras certas de suas posições, crentes em suas concepções. Com um sorriso, com uma taça à mão, ela exercia habilmente sua capacidade de ser oportuna, extremamente polida sem enfado; ela era a salvaguarda de uma ordinária e habitual convenção social. Talvez, como conseqüência de sua notável presença, ela fosse a preferida de de mr.Fontaine, um cobiçado cavalheiro, abastado e atraente.
“Olá, mrs.Teresse.” ele havia dito há poucos instantes.
“Ah,” ela se virou graciosamente, com uma taça à mão e um sorriso nos lábios “olá, mr.Fontaine.”
“Eu acho que comentei que você poderia me chamar de Tristan, assim como eu a chamo de Teresse.”
“Ah, comentou, sim, mr.Fontaine.” Percebendo o equívoco, ela retifica, com um arquear de sobrancelhas e uma piscadela admirativa “Mas, mr.Tristan, está gostando da festa?” Interessantemente, ela, às vezes, recorria a diálogos triviais demais, sem se desmerecer.
“Uma típica festa de Rowena – pianistas, bebidas e Londres.” Ele comenta ironicamente.”
“Ah, também acho que a mrs.Drake convida pessoas em excesso.”
Ela, conforme a conversa se desenvolvia, tornava-se ainda mais interessante – era isso que mr.Fontaine realmente prezava, a incrível capacidade que Teresse tinha de compreender o que diziam, de prosseguir promissoramente o diálogo, diferentemente daquelas mulheres estúpidas que sorriam vagamente, enfadonhas.
“Não é somente eu, então, que me sinto sufocado entre tantos trajes negros.”
“Não afirmaria com tal veemência, mesmo concordando;” aproxima-se do ouvido de Tristan, num ato de cumplicidade “essas pessoas, porém, acostumaram-se de tal forma a essas festas que nem se preocupam mais – é o trabalho de beber gratuitamente e discutir amenidades.”
Ele achava realmente fantástica sua facilidade para ser sincera e impessoal.
“É, então volto a sentir-me sozinho.” Sorri, realçando sua doce altivez.
“Londres, essas grandes reuniões, essas inúmeras pessoas, constituem o melhor contexto para sentir-se sozinho.” Ela transforma seu sorriso, sem perder a ternura. “E, agora, deixar-lhe-ei um pouco mais sozinho.” Ela acena graciosamente; havia visto mrs.Bell passar, mas a alcançaria facilmente.
Enquanto Teresse se afastava, ele pensava no que seus olhares e sorrisos tentavam exteriorizar; ele pensava na sua atipicidade, ele pensava em como ela o cativava facilmente só por ser ela mesma, extraordinária. Tristan estava feliz, realizado, pleno – ela não lhe deixara mais sozinho.

Um comentário:

Lápis Sara disse...

Rafa, sinceramente, este é um dos textos que vc escreveu, que eu mais gostei!

PARABÉNS!