Acabei há pouco o texto abaixo e resolvi postá-lo. Não encontrei alguma categoria textual para enquadrá-lo, então o deixo como um pequeno monólogo. Bom começo de semana a todos.
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Sábado ou Domingo
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A massa disforme de corpos em movimento contínuo oprime meus movimentos. As listras brancas estão cobertas por pés em passo ininterrupto, a marcha dos organismos vivos encobre todo e qualquer vão de chão tangível - eu estou imóvel enquanto observo o andar compassado da multidão. As cores que passam, múltiplos matizes discrimináveis, tingem a paisagem abastadamente, preenchendo-a com borrões hipnotizadores de variados corpos - eles me seduzem, eles me atraem para o meio daquela constante desordem.
Minha forma corpórea é impelida para a enorme aglomeração enquanto minhas pernas começam seu movimento frenético de seguir em frente. Eu sorrio por instantes, o calor da profusão de corpos faz-me sentir seguro, afasta a sensação fria de um dia de inverno. Um dia de inverno - sábado ou domingo? Não saberia dizer sem raciocinar sobre os dias anteriores. Intrinsecamente, não me importava o dia exato. Era um dia qualquer, mais um dia; o dia. Se eu me reportasse ao que vivia, a discriminação nominatória deles não faria algum sentido verdadeiro: eram nomes. Nomes que surgem, sucedem-se e repetem, sem alguma significação verdadeira. Nem ao menos o próprio domingo pode ser considerado significativo. Eram somente nomes que estabeleciam uma ordem e referência; não para mim. Havia me despojado daquele traço de civilização, começara a encarar aqueles períodos claros e escuros como um bloco contínuo de condições. O dia sucedia a noite e a noite sucedia o dia em ciclos circulares que nunca acabam. Às vezes, a roda aumenta ou diminui a rotação, mas nunca deixa de rodar da mesma forma. Penso que esta sucessão não passa de um reflexo da própria vida: a multidão anda em dada cadência, que diminui e acelera conforme algo indefinível, e acaba por estagnar em um marolar imutável. Isso me ocorre talvez por minha vida ser assim: é fado a tentativa de impor aos demais a própria condição em uma tentativa de reconhecimento. Eu tento reconhecer minha condição sem me afastar da realidade coletiva, buscando em outros indivíduos as mesmas características que me atormentam como forma de justificação – a justificação individual não possui intensidade suficiente para se manter e consolidar. Busco ir do individual para o coletivo como forma de sufocar o questionamento de forma que a existência se torne mais palpável e menos desenfreada – ir para o comum é um modo de garantir o controle e compreensão.
Agora, deixarei que meu corpo tome parte à profusão. Quero deixar que ele suma em meio a esses matizes para que eu encontre na totalidade a substância de existir que me falta – quero que a justificativa imparcial da multidão me circunde e contenha de forma com que eu consolide a minha vida com a consistência de uma verdadeira definição. Quero me submeter ao passo vulgar de forma com que a sua verdade seja a minha verdade, de forma com que eu possa me justificar de forma saciável e única.
Agora, eu me abandono do indivíduo como um corpo coletivo, destituindo-me de toda e qualquer subjetividade.
Minha forma corpórea é impelida para a enorme aglomeração enquanto minhas pernas começam seu movimento frenético de seguir em frente. Eu sorrio por instantes, o calor da profusão de corpos faz-me sentir seguro, afasta a sensação fria de um dia de inverno. Um dia de inverno - sábado ou domingo? Não saberia dizer sem raciocinar sobre os dias anteriores. Intrinsecamente, não me importava o dia exato. Era um dia qualquer, mais um dia; o dia. Se eu me reportasse ao que vivia, a discriminação nominatória deles não faria algum sentido verdadeiro: eram nomes. Nomes que surgem, sucedem-se e repetem, sem alguma significação verdadeira. Nem ao menos o próprio domingo pode ser considerado significativo. Eram somente nomes que estabeleciam uma ordem e referência; não para mim. Havia me despojado daquele traço de civilização, começara a encarar aqueles períodos claros e escuros como um bloco contínuo de condições. O dia sucedia a noite e a noite sucedia o dia em ciclos circulares que nunca acabam. Às vezes, a roda aumenta ou diminui a rotação, mas nunca deixa de rodar da mesma forma. Penso que esta sucessão não passa de um reflexo da própria vida: a multidão anda em dada cadência, que diminui e acelera conforme algo indefinível, e acaba por estagnar em um marolar imutável. Isso me ocorre talvez por minha vida ser assim: é fado a tentativa de impor aos demais a própria condição em uma tentativa de reconhecimento. Eu tento reconhecer minha condição sem me afastar da realidade coletiva, buscando em outros indivíduos as mesmas características que me atormentam como forma de justificação – a justificação individual não possui intensidade suficiente para se manter e consolidar. Busco ir do individual para o coletivo como forma de sufocar o questionamento de forma que a existência se torne mais palpável e menos desenfreada – ir para o comum é um modo de garantir o controle e compreensão.
Agora, deixarei que meu corpo tome parte à profusão. Quero deixar que ele suma em meio a esses matizes para que eu encontre na totalidade a substância de existir que me falta – quero que a justificativa imparcial da multidão me circunde e contenha de forma com que eu consolide a minha vida com a consistência de uma verdadeira definição. Quero me submeter ao passo vulgar de forma com que a sua verdade seja a minha verdade, de forma com que eu possa me justificar de forma saciável e única.
Agora, eu me abandono do indivíduo como um corpo coletivo, destituindo-me de toda e qualquer subjetividade.
Um comentário:
Muito bom!
Parabéns ":)
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