Por Sob o Pensamento,
De que adianta se expressar
quando o que se quer
está na plenitude do silêncio?
De que adianta desdobrar a memória
em palavras que traem
a abastada camada da lembrança?
Eu escrevo por temer esquecer,
e por temer eu me negligencio aquilo
que só caberia num ínterim de contemplação,
na completa mudez estagnada
ante o intermitente vislumbre.
Pois só o vislumbre consciente do passado
é puro e verdadeiro, as palavras não são
capazes de captar a essência,
elas sempre subjulgam a tratam com neutralidade
aquilo que lhe deveria ser a razão de existir.
E assim eu degrado minha impressão do passado.
Como traduzir em palavras a magia de nosso encontro?
– meus olhar posto em tua direção, meus sorrisos por mirar-te,
o jeito com o qual moveste o lábio superior para sorrir,
a forma sutil com que teus dedos folhearam o cardápio –
Como transformar uma fina camada nervosa em algo sólido e nítido?
A minha lembrança se esvaece,
e com ela tenho medo de te perder.
Não, eu sei que não te perderia,
mas eu me perderia
por perder a lembrança
onde vive a minha maior significação.
Então, meu amor, eu preciso achar
a medida exata para transpor em palavras
e, assim, solidificar aquilo que se me pode perder.
Ah, mas é tão vasto, tão peculiar
que terei de repousar sobre todo
o mundo gramatical para achar o tom.
E assim eu vou nos narrar prolixicamente sem sentido,
fixo naquilo em que o tempo me toma tão injustamente.
Rafael Souza Barbosa.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário