Amor Falado,
Oscilo no fim da tarde de domingo
como a luz do sol ante as nuvens fragmentárias.
O olhar se perde na parede marfim
enquanto o corpo se contorce languidamente na cama,
lasso, estalando a carcaça que o sustenta.
O olhar segue para a janela e
as árvores ao fundo parecem frondejantes,
como se fosse primavera.
Minhas palavras armadas se combinam e
formam poderosas sentenças,
repletas de pontos ocasionais que
exprimem a mais abastada intensidade.
Eu me viro para o outro lado e ressono,
é um discurso que se perde no hábito.
Do coração furta-se o mais profundo silêncio.
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 12 de outubro de 2008
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Pássaro interior
Há um pássaro dentro de mim
Ele quer, ele precisa
Nem que isso custe a própria vida
Voar!
Sara A. Carra
Ele quer, ele precisa
Nem que isso custe a própria vida
Voar!
Sara A. Carra
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Sentimentos que me Buscam
Sentimentos que me Buscam
Estou de frente
para os meus
sentimentos.
Eles me buscam,
me procuram
Vejo em seus olhos
uma necessidade
de carinho.
Vejo em seus rostos
o quanto eles precisam
de minha atenção,
de minha compreensão.
Eu nada digo.
Eles querem apenas
serem ouvidos.
Sua linguagem é
a emoção,
pois desconhecem
o significado
das palavras.
Por isso, eu escuto
as lágrimas.
Por isso, eu observo
os gestos.
Por isso, eu seguro
suas mãos e fico
em silêncio enquanto
sinto meu coração bater.
Letícia Rocha
Estou de frente
para os meus
sentimentos.
Eles me buscam,
me procuram
Vejo em seus olhos
uma necessidade
de carinho.
Vejo em seus rostos
o quanto eles precisam
de minha atenção,
de minha compreensão.
Eu nada digo.
Eles querem apenas
serem ouvidos.
Sua linguagem é
a emoção,
pois desconhecem
o significado
das palavras.
Por isso, eu escuto
as lágrimas.
Por isso, eu observo
os gestos.
Por isso, eu seguro
suas mãos e fico
em silêncio enquanto
sinto meu coração bater.
Letícia Rocha
sábado, 12 de julho de 2008
Algumas frases
Só tem uma pessoa que é minha dona: eu mesma.
Um dia, você aprende que a vida ñ se faz em 9 meses, se faz a cada instante em que se vive.
Ninguém me domina; no máximo, me faz amar.
Se pudesse voltar no tempo não o faria; pedras preciosas só valem muito porque são raras.
Um dia, o mundo terá que escolher entre o prazer e a justiça.
Sara A. Carra
*Todas as frases são minhas*
Um dia, você aprende que a vida ñ se faz em 9 meses, se faz a cada instante em que se vive.
Ninguém me domina; no máximo, me faz amar.
Se pudesse voltar no tempo não o faria; pedras preciosas só valem muito porque são raras.
Um dia, o mundo terá que escolher entre o prazer e a justiça.
Sara A. Carra
*Todas as frases são minhas*
terça-feira, 3 de junho de 2008
Sou o que sou
Sou filho da terra
Sou carne do pão
Sou amor e ódio
Na palma da mão
Sou engenheiro de mim
Sou meu morador
Sou água e capim
Sou meu orador
Sou minha doença
Sou o próprio remédio
Sou minha nascença
Sou o próprio tédio
Sou meu pintor
Sou meu escritor
Sou a ignorância
Meu próprio leitor
Sou o que se espera
Sou o que não quer mais
Sou uma nova esperança
Sou uma nova era.
Sara A. Carra
Sou carne do pão
Sou amor e ódio
Na palma da mão
Sou engenheiro de mim
Sou meu morador
Sou água e capim
Sou meu orador
Sou minha doença
Sou o próprio remédio
Sou minha nascença
Sou o próprio tédio
Sou meu pintor
Sou meu escritor
Sou a ignorância
Meu próprio leitor
Sou o que se espera
Sou o que não quer mais
Sou uma nova esperança
Sou uma nova era.
Sara A. Carra
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Próximos, Ligados e Distantes
Estou tão próxima e ao mesmo tempo tão distante. Vivo a poucos metros de onde vivem pessoas. Pessoas que, assim como eu, possuem uma vida, compromissos, rotina e afazeres. Porém, há uma distância entre eu e elas. A distância que se manifesta pelo fato de não as conhecer.
Olho pela janela e vejo tantos prédios, luzes acesas, sinal de que alguém está presente ou esteve há pouco por ali. Penso no quanto os moradores podem ser semelhantes a mim. Sentem medo, dor, tristeza ou alegria, amam. Ao mesmo tempo tão diferentes no jeito, nos gostos, preferências.
Imagino o quanto nossas vidas podem estar relacionadas, embora não pareça. Talvez alguém seja meu futuro professor, ou o autor de um texto que lerei, ou quem sabe o amigo de um amigo meu. Vivendo tão perto, não os conheço.
Ao parar para refletir, percebo que apesar da globalização, existe uma grande distância entre nós. Andando pela rua, posso cruzar com alguém e esse alguém pode viver a dez metros de minha casa e simplesmente posso nunca tê-lo visto antes. Nada sei a respeito dele. Porém essa distância deve ser respeitada. Todos nós estamos ligados de alguma forma estando próximos ou não.
Olho pela janela e vejo tantos prédios, luzes acesas, sinal de que alguém está presente ou esteve há pouco por ali. Penso no quanto os moradores podem ser semelhantes a mim. Sentem medo, dor, tristeza ou alegria, amam. Ao mesmo tempo tão diferentes no jeito, nos gostos, preferências.
Imagino o quanto nossas vidas podem estar relacionadas, embora não pareça. Talvez alguém seja meu futuro professor, ou o autor de um texto que lerei, ou quem sabe o amigo de um amigo meu. Vivendo tão perto, não os conheço.
Ao parar para refletir, percebo que apesar da globalização, existe uma grande distância entre nós. Andando pela rua, posso cruzar com alguém e esse alguém pode viver a dez metros de minha casa e simplesmente posso nunca tê-lo visto antes. Nada sei a respeito dele. Porém essa distância deve ser respeitada. Todos nós estamos ligados de alguma forma estando próximos ou não.
Letícia Rocha
sábado, 10 de maio de 2008
Incompletudes
Incompletudes,
poema a J. L. Borges,
Não sei,
falta-me um sentido, um tacto.
Falta-me um olhar inquiridor,
uma constância do tempo.
Falta-me a aurora,
as estrelas matutinas.
Faltam-me mãos e braços
de uma solidez colossal.
Faltam-me a fórmula da panacéia
e o segredo do idilismo.
Falta-me o tom da madrugada,
o eco do suspiro.
Falta-me sensatez,
falta-me lógica de raciocínio.
Falta-me o essencial,
que se excede em prolixidade.
Sobram-me carências,
e o uivo que dilata.
Rafael Souza Barbosa.
poema a J. L. Borges,
Não sei,
falta-me um sentido, um tacto.
Falta-me um olhar inquiridor,
uma constância do tempo.
Falta-me a aurora,
as estrelas matutinas.
Faltam-me mãos e braços
de uma solidez colossal.
Faltam-me a fórmula da panacéia
e o segredo do idilismo.
Falta-me o tom da madrugada,
o eco do suspiro.
Falta-me sensatez,
falta-me lógica de raciocínio.
Falta-me o essencial,
que se excede em prolixidade.
Sobram-me carências,
e o uivo que dilata.
Rafael Souza Barbosa.
sábado, 3 de maio de 2008
Ciúmes e Anseios
Ciúmes e Anseios,
Eu sinto ciúmes desse seu cigarro
que você fuma tão distraidamente.
E do lençol que roça furtivamente
nos teus pés.
Sinto ciúmes dessa camisa amarrotada,
dessa calça puída,
que permanecem tão rentes ao teu corpo.
Eu sinto ciúmes desse ar que espreita à tua boca
e mergulha fundo em teu ser.
Quero esse átimo
em que o tempo te consome,
em que o tempo te devasta sutilmente.
Quero viver nessa intermitência do teu coração,
que pulsa intensamente.
Quero te roubar os gestos negligentes,
o sorriso arqueado
que ilumina minha noite,
que ilumina minha escuridão.
Quero te trancafiar nesse quarto,
quero te aprisionar nessa cama
junto com meus sonhos e delírios.
Quero te afastar daquelas paredes,
elas se interpõem entre nós.
Quero, dentre destes todos poentes,
encontrar em ti a aurora desse momento,
o despertar da minha vida.
Quero viver em ti, quero me consumir em ti,
quero que essa madrugada se finde
e tu surjas, meu eterno amanhecer.
Rafael Souza Barbosa.
Eu sinto ciúmes desse seu cigarro
que você fuma tão distraidamente.
E do lençol que roça furtivamente
nos teus pés.
Sinto ciúmes dessa camisa amarrotada,
dessa calça puída,
que permanecem tão rentes ao teu corpo.
Eu sinto ciúmes desse ar que espreita à tua boca
e mergulha fundo em teu ser.
Quero esse átimo
em que o tempo te consome,
em que o tempo te devasta sutilmente.
Quero viver nessa intermitência do teu coração,
que pulsa intensamente.
Quero te roubar os gestos negligentes,
o sorriso arqueado
que ilumina minha noite,
que ilumina minha escuridão.
Quero te trancafiar nesse quarto,
quero te aprisionar nessa cama
junto com meus sonhos e delírios.
Quero te afastar daquelas paredes,
elas se interpõem entre nós.
Quero, dentre destes todos poentes,
encontrar em ti a aurora desse momento,
o despertar da minha vida.
Quero viver em ti, quero me consumir em ti,
quero que essa madrugada se finde
e tu surjas, meu eterno amanhecer.
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 20 de abril de 2008
Paisagem, História e Melodia
Sou um lápis a escrever a vida
Meus pensamentos são as mãos
Que me conduzem
Me movimento livremente
Sou um pincel
A pintar distraidamente
Sou conduzido por minhas emoções
São elas que escolhem
Cada cor do que vivo
A pintar distraidamente
Sou conduzido por minhas emoções
São elas que escolhem
Cada cor do que vivo
Sou os dedos que deslizam
Pelo piano suavemente
Toco a música que movimenta
Minha vida
Pelo piano suavemente
Toco a música que movimenta
Minha vida
Leio, escuto e vejo
Tudo aquilo que forma
Cada ponto da paisagem,
Da história, da melodia
Do meu viver
Tudo aquilo que forma
Cada ponto da paisagem,
Da história, da melodia
Do meu viver
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Irremediável
Irremediável,
A síntese da despedida
é a certeza da nulidade.
Estamos apartados,
estamos além do alcance da palavra.
O gesto não se forma,
os lábios escandem silêncios.
Nossa excitação se desfez,
não nos ligamos
como gesto de reciprocidade.
Jazemos em um vácuo lexical,
sem significantes, sem significação.
Somos a ausência do discurso.
Rafael Souza Barbosa.
A síntese da despedida
é a certeza da nulidade.
Estamos apartados,
estamos além do alcance da palavra.
O gesto não se forma,
os lábios escandem silêncios.
Nossa excitação se desfez,
não nos ligamos
como gesto de reciprocidade.
Jazemos em um vácuo lexical,
sem significantes, sem significação.
Somos a ausência do discurso.
Rafael Souza Barbosa.
quinta-feira, 20 de março de 2008
Descontentamento
Descontentamento,
Não há como me contentar
com essas pequenas glórias,
elas não toldam a frustração maior.
De que adianta a estante repleta de títulos
os quais nunca lerá?
O pequeno prazer da compra,
o êxtase das prateleiras abarrotadas –
você nem sequer terminou aquele volume maior de crônicas.
Algo como uma estagnação contida aflora
e toma por completo, contaminando cada poro
do corpo todo, estafo de corpo e alma - -
esta angústia maldita a inflar e a murchar
o frágil coração.
Não, o amor não é mais a minha estação.
Rafael Souza Barbosa.
Não há como me contentar
com essas pequenas glórias,
elas não toldam a frustração maior.
De que adianta a estante repleta de títulos
os quais nunca lerá?
O pequeno prazer da compra,
o êxtase das prateleiras abarrotadas –
você nem sequer terminou aquele volume maior de crônicas.
Algo como uma estagnação contida aflora
e toma por completo, contaminando cada poro
do corpo todo, estafo de corpo e alma - -
esta angústia maldita a inflar e a murchar
o frágil coração.
Não, o amor não é mais a minha estação.
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 2 de março de 2008
Regresso ao Mundo
Regresso ao Mundo,
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços... São os teus braços dentro dos meus braços... Via láctea fechando o infinito!
Tomado pela misantropia,
eu me afasto, recluso de tuas
palavras me ponho,
pelas masmorras me arrasto.
Respiro descompassado,
vagante, sem um suspiro,
nem deliro ou me ponho extasiado.
Por algum fado trespassado,
acometido de um instinto descontrolado,
cá errante eu estou
de uma má-escolha vitimado.
Ainda há tempo, amor?
Não mais estou
em meu cárcere involuntário.
Estou sedento de tua presença,
do ecoar dos vocábulos
que de teus lábios despontam
e me põe assim, entregue, apaixonado.
Estou desejoso de ti,
vem, tira-me desta prisão,
desata-me destes grilhões,
desencarcera a minha emoção.
Exercita minha alma puída,
ela surda está, frígida,
necessitada do que corrompe o inefável.
Como posso viver sem teus versos?
Tua boa na minha boca,
teu ser a me por reverso.
Estremeço e desperto,
assim que me pões,
exposto com as vísceras
em descoberto,
e a via láctea fechando o infinito.
Rafael Souza Barbosa.
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços... São os teus braços dentro dos meus braços... Via láctea fechando o infinito!
Tomado pela misantropia,
eu me afasto, recluso de tuas
palavras me ponho,
pelas masmorras me arrasto.
Respiro descompassado,
vagante, sem um suspiro,
nem deliro ou me ponho extasiado.
Por algum fado trespassado,
acometido de um instinto descontrolado,
cá errante eu estou
de uma má-escolha vitimado.
Ainda há tempo, amor?
Não mais estou
em meu cárcere involuntário.
Estou sedento de tua presença,
do ecoar dos vocábulos
que de teus lábios despontam
e me põe assim, entregue, apaixonado.
Estou desejoso de ti,
vem, tira-me desta prisão,
desata-me destes grilhões,
desencarcera a minha emoção.
Exercita minha alma puída,
ela surda está, frígida,
necessitada do que corrompe o inefável.
Como posso viver sem teus versos?
Tua boa na minha boca,
teu ser a me por reverso.
Estremeço e desperto,
assim que me pões,
exposto com as vísceras
em descoberto,
e a via láctea fechando o infinito.
Rafael Souza Barbosa.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Por Sob o Pensamento
Por Sob o Pensamento,
De que adianta se expressar
quando o que se quer
está na plenitude do silêncio?
De que adianta desdobrar a memória
em palavras que traem
a abastada camada da lembrança?
Eu escrevo por temer esquecer,
e por temer eu me negligencio aquilo
que só caberia num ínterim de contemplação,
na completa mudez estagnada
ante o intermitente vislumbre.
Pois só o vislumbre consciente do passado
é puro e verdadeiro, as palavras não são
capazes de captar a essência,
elas sempre subjulgam a tratam com neutralidade
aquilo que lhe deveria ser a razão de existir.
E assim eu degrado minha impressão do passado.
Como traduzir em palavras a magia de nosso encontro?
– meus olhar posto em tua direção, meus sorrisos por mirar-te,
o jeito com o qual moveste o lábio superior para sorrir,
a forma sutil com que teus dedos folhearam o cardápio –
Como transformar uma fina camada nervosa em algo sólido e nítido?
A minha lembrança se esvaece,
e com ela tenho medo de te perder.
Não, eu sei que não te perderia,
mas eu me perderia
por perder a lembrança
onde vive a minha maior significação.
Então, meu amor, eu preciso achar
a medida exata para transpor em palavras
e, assim, solidificar aquilo que se me pode perder.
Ah, mas é tão vasto, tão peculiar
que terei de repousar sobre todo
o mundo gramatical para achar o tom.
E assim eu vou nos narrar prolixicamente sem sentido,
fixo naquilo em que o tempo me toma tão injustamente.
Rafael Souza Barbosa.
De que adianta se expressar
quando o que se quer
está na plenitude do silêncio?
De que adianta desdobrar a memória
em palavras que traem
a abastada camada da lembrança?
Eu escrevo por temer esquecer,
e por temer eu me negligencio aquilo
que só caberia num ínterim de contemplação,
na completa mudez estagnada
ante o intermitente vislumbre.
Pois só o vislumbre consciente do passado
é puro e verdadeiro, as palavras não são
capazes de captar a essência,
elas sempre subjulgam a tratam com neutralidade
aquilo que lhe deveria ser a razão de existir.
E assim eu degrado minha impressão do passado.
Como traduzir em palavras a magia de nosso encontro?
– meus olhar posto em tua direção, meus sorrisos por mirar-te,
o jeito com o qual moveste o lábio superior para sorrir,
a forma sutil com que teus dedos folhearam o cardápio –
Como transformar uma fina camada nervosa em algo sólido e nítido?
A minha lembrança se esvaece,
e com ela tenho medo de te perder.
Não, eu sei que não te perderia,
mas eu me perderia
por perder a lembrança
onde vive a minha maior significação.
Então, meu amor, eu preciso achar
a medida exata para transpor em palavras
e, assim, solidificar aquilo que se me pode perder.
Ah, mas é tão vasto, tão peculiar
que terei de repousar sobre todo
o mundo gramatical para achar o tom.
E assim eu vou nos narrar prolixicamente sem sentido,
fixo naquilo em que o tempo me toma tão injustamente.
Rafael Souza Barbosa.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Recôndito
Recôndito,
Ainda que se fechem as janelas, meu pai, é certo que amanhece.
Hilda Hilst
Devassam-me onipresentes dedos
de voraz tato
com tanta avidez que
pelo colo
dominam meu corpo inteiro.
O toque se distende pelo seio,
as mãos rijas agarram os ombros
que sustentam
a minha lassa carcaça.
Inteiramente entregue,
meus olhos delatam
e relatam
a recôndita culpa
que me fora inquirida.
O ulular ecoa
com meus lábios cerrados,
e a lamúria que se me transborda
pelo olhar
encharca
meu parco leito.
E os braços se me enrolam
e comprimem
de forma
a me asfixiar,
a me punir,
a me torturar.
E eu não escapo
do que me é fado,
do que range os meus ossos
e me consome
do espírito à pele.
Minhas pernas se contraem
e os braços se me atam
e me prostram
enquanto o ardor cresce
e dilata as minhas vísceras.
Queima, meu pai, como queima,
mas sei que hei delinqüido
e essa pena é meu mérito maior.
E eu só gostaria, meu pai,
de que teus braços me envolvessem
e sufocassem,
pois os meus cansam e afrouxam
enquanto eu sei que mais deveria vir
a inflamar-me
e a consumir-me.
Ah, como eu gostaria de que
a mão inquisidora minha não fosse,
de que os braços que me oprimem
pertencessem a outro.
Ah, pai, como eu gostaria de que fosses tu,
não eu,
que me impelisse para esta triste sina,
a arder pela chama que eu mesmo alimento.
Rafael Souza Barbosa.
Ainda que se fechem as janelas, meu pai, é certo que amanhece.
Hilda Hilst
Devassam-me onipresentes dedos
de voraz tato
com tanta avidez que
pelo colo
dominam meu corpo inteiro.
O toque se distende pelo seio,
as mãos rijas agarram os ombros
que sustentam
a minha lassa carcaça.
Inteiramente entregue,
meus olhos delatam
e relatam
a recôndita culpa
que me fora inquirida.
O ulular ecoa
com meus lábios cerrados,
e a lamúria que se me transborda
pelo olhar
encharca
meu parco leito.
E os braços se me enrolam
e comprimem
de forma
a me asfixiar,
a me punir,
a me torturar.
E eu não escapo
do que me é fado,
do que range os meus ossos
e me consome
do espírito à pele.
Minhas pernas se contraem
e os braços se me atam
e me prostram
enquanto o ardor cresce
e dilata as minhas vísceras.
Queima, meu pai, como queima,
mas sei que hei delinqüido
e essa pena é meu mérito maior.
E eu só gostaria, meu pai,
de que teus braços me envolvessem
e sufocassem,
pois os meus cansam e afrouxam
enquanto eu sei que mais deveria vir
a inflamar-me
e a consumir-me.
Ah, como eu gostaria de que
a mão inquisidora minha não fosse,
de que os braços que me oprimem
pertencessem a outro.
Ah, pai, como eu gostaria de que fosses tu,
não eu,
que me impelisse para esta triste sina,
a arder pela chama que eu mesmo alimento.
Rafael Souza Barbosa.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Nos Mares
Nos mares dos desejos
Estou eu entre teus beijos
Nos mares das vitórias
Estás tu; triste história
Nos mares do amor
Estou eu; inferno, calor
Nos mares das conquistas
Estás tu; triste e mentira
Nos mares das crenças
Estou eu; devoto em doenças
Nos mares das vivências
Estás tu; triste essência
Nos mares das virtudes
Estou eu; fora e pútrida.
Sara A. Carra
Estou eu entre teus beijos
Nos mares das vitórias
Estás tu; triste história
Nos mares do amor
Estou eu; inferno, calor
Nos mares das conquistas
Estás tu; triste e mentira
Nos mares das crenças
Estou eu; devoto em doenças
Nos mares das vivências
Estás tu; triste essência
Nos mares das virtudes
Estou eu; fora e pútrida.
Sara A. Carra
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Da Gruta
logo os trabalhos recomeçarão. beijos.
Da Gruta,
E da película fina de carne
que me cobre os ossos
vem o fremido que me faz
bramir,
tremer,
suspirar,
ranger.
E me faço todo de impulsos,
com braços inquietos,
com lábios arquejantes.
E eu sorrio,
rio,
e me agito todo
nesse escombro
sombrio.
Rafael Souza Barbosa.
Da Gruta,
E da película fina de carne
que me cobre os ossos
vem o fremido que me faz
bramir,
tremer,
suspirar,
ranger.
E me faço todo de impulsos,
com braços inquietos,
com lábios arquejantes.
E eu sorrio,
rio,
e me agito todo
nesse escombro
sombrio.
Rafael Souza Barbosa.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Objecto de Decepção
uma poema de carnaval, beijos.
Objecto de Decepção,
Me desprezas com frieza
por eu ter delinqüido.
Me cospes, pisas,
usas de palavras
que me expõem as vísceras
– fazes de meu delito um látego.
Sim, meu amor, arde-me a culpa,
mas não a culpa do ato,
a culpa da culpa,
que por ela me desato,
mato,
longe de ti
que jaz nesse regato.
Por que me consomes assim?
não despojo conseqüências,
mas não desejo o fim.
Vem, meu amor,
faz-me sorrir por ti novamente,
some com essa mácula ardente
antes que o sol se ponha poente.
Rafael Souza Barbosa.
Objecto de Decepção,
Me desprezas com frieza
por eu ter delinqüido.
Me cospes, pisas,
usas de palavras
que me expõem as vísceras
– fazes de meu delito um látego.
Sim, meu amor, arde-me a culpa,
mas não a culpa do ato,
a culpa da culpa,
que por ela me desato,
mato,
longe de ti
que jaz nesse regato.
Por que me consomes assim?
não despojo conseqüências,
mas não desejo o fim.
Vem, meu amor,
faz-me sorrir por ti novamente,
some com essa mácula ardente
antes que o sol se ponha poente.
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 27 de janeiro de 2008
Desejos
anseios de não-escrever. bom começo de semana, beijos.
Desejos,
Eu quero o que paira sob a palavra,
a delicada camada de significação
que notas fônicas compreendem e ocultam.
Eu quero a forma pura das coisas,
não a substância, que é um mero meio
delas se firmarem e virem à tona.
Eu quero o olhar, não o toque,
que obstruí os poros e impede
de perceber e sentir livremente.
Eu quero flutuar sobre os versos
não escritos, só pensados, os versos que
abarcam a mais profunda realidade.
Rafael Souza Barbosa.
Desejos,
Eu quero o que paira sob a palavra,
a delicada camada de significação
que notas fônicas compreendem e ocultam.
Eu quero a forma pura das coisas,
não a substância, que é um mero meio
delas se firmarem e virem à tona.
Eu quero o olhar, não o toque,
que obstruí os poros e impede
de perceber e sentir livremente.
Eu quero flutuar sobre os versos
não escritos, só pensados, os versos que
abarcam a mais profunda realidade.
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 20 de janeiro de 2008
Poça
um viva à semiótica. um bom começo de semana, beijos.
Poça,
Penetrar a lama,
chafurdar no pântano,
tornar silvo o que era brama.
Calar,
cobrir-se com o lodo,
deixar que o peso
do próprio fado
empurre para o fundo:
não há empuxo.
Esquecer do próprio corpo
como se o colocasse nas mãos de Deus.
Só há as mãos vagas, os cabelos enlameados,
a tranqüilidade do esquecimento,
a serenidade da indulgência,
o olhar cego que mira ininterrupto a vastidão do insubstancial.
Rafael Souza Barbosa.
Poça,
Penetrar a lama,
chafurdar no pântano,
tornar silvo o que era brama.
Calar,
cobrir-se com o lodo,
deixar que o peso
do próprio fado
empurre para o fundo:
não há empuxo.
Esquecer do próprio corpo
como se o colocasse nas mãos de Deus.
Só há as mãos vagas, os cabelos enlameados,
a tranqüilidade do esquecimento,
a serenidade da indulgência,
o olhar cego que mira ininterrupto a vastidão do insubstancial.
Rafael Souza Barbosa.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Limiares
versos, versos, versos... o ser ao reverso.
Limiares,
Ancoro o discurso no silêncio,
no vazio do bizarro âmago
que se faz com a ausência das palavras.
Intermitente,
a carência de nome devassa o íntimo,
ora intensa, ora frouxa,
como se ruísse a soma dos anos.
E o vácuo lexical se dilata e se expande,
devora os traços de civilização que se transportam
em inúmeros e diversos signos carentes de significante.
Impera a quietude, o labiar mudo,
a presença pura da essência,
a exposição da substância íntima e involucral.
Sucumbiram-se os vocábulos,
o cerne escorreu e cobriu a maculada face
com o bruto, essencial, primitivo,
que nos torna dissemelhantes
e tantas vezes espelhados.
Aflora a nossa natureza
por sobre nossa face e corpo,
somos cobertos ao reverso
de que fôramos antes.
Será o ápice, amor?
A pobreza, o fim do coletivo?
A ausência de nome que nos transporta ao universo um do outro?
A entrada naquilo que nos torna unos?
A verdade que se nos enlaça e almagama?
Que nos põe ditos, completos, existentes?
Rafael Souza Barbosa.
Limiares,
Ancoro o discurso no silêncio,
no vazio do bizarro âmago
que se faz com a ausência das palavras.
Intermitente,
a carência de nome devassa o íntimo,
ora intensa, ora frouxa,
como se ruísse a soma dos anos.
E o vácuo lexical se dilata e se expande,
devora os traços de civilização que se transportam
em inúmeros e diversos signos carentes de significante.
Impera a quietude, o labiar mudo,
a presença pura da essência,
a exposição da substância íntima e involucral.
Sucumbiram-se os vocábulos,
o cerne escorreu e cobriu a maculada face
com o bruto, essencial, primitivo,
que nos torna dissemelhantes
e tantas vezes espelhados.
Aflora a nossa natureza
por sobre nossa face e corpo,
somos cobertos ao reverso
de que fôramos antes.
Será o ápice, amor?
A pobreza, o fim do coletivo?
A ausência de nome que nos transporta ao universo um do outro?
A entrada naquilo que nos torna unos?
A verdade que se nos enlaça e almagama?
Que nos põe ditos, completos, existentes?
Rafael Souza Barbosa.
domingo, 13 de janeiro de 2008
Hades
um pouco de versos. beijos.
Hades,
À margem do Estige, vagante,
com nenhum lugar à barca de Caronte,
procuro o fim da minha sina dilacerante,
procuro o fim do que me é extenuante.
Sob meu peito latejante
trago a marca abrasante
que me põe asfixiante
– meu suspiro ululante
não oculta tal dissonante
sinal de uma vida nauseante.
Arquejante,
não mais me omito a vida aviltante,
que me foi tão frondejante,
que sustentei com rompante,
e digo minha escondida verdade sussurrante.
Arfante,
sob essa luz bruxuleante,
caço entre a treva penetrante
as águas que põem fim ao agonizante,
as águas do Letes chamejante.
Sacrificante,
mergulho no esquecimento, meu único meio edificante.
Rafael Souza Barbosa.
Hades,
À margem do Estige, vagante,
com nenhum lugar à barca de Caronte,
procuro o fim da minha sina dilacerante,
procuro o fim do que me é extenuante.
Sob meu peito latejante
trago a marca abrasante
que me põe asfixiante
– meu suspiro ululante
não oculta tal dissonante
sinal de uma vida nauseante.
Arquejante,
não mais me omito a vida aviltante,
que me foi tão frondejante,
que sustentei com rompante,
e digo minha escondida verdade sussurrante.
Arfante,
sob essa luz bruxuleante,
caço entre a treva penetrante
as águas que põem fim ao agonizante,
as águas do Letes chamejante.
Sacrificante,
mergulho no esquecimento, meu único meio edificante.
Rafael Souza Barbosa.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Matéria de Salvação
Que o novo ano vos traga em brasa a vida e tudo o que ela abarca. abraços.
Matéria de Salvação,
Digo-te com brutalidade porque tenho necessidade de dizer.
As palavras emergem com uma facilidade assustadora,
eu sei,
mas, se não as deixasse emergirem,
acabaria por trair minha espontaniedade.
E, por trair minha espontaniedade,
eu trairia aquilo que tu me fazes sentir
- és meu meio de expressar amor.
Também sou teu meio, teu incerto meio,
sirvo para algo que ainda não sei bem.
Sou um nome qualquer, sem causa ou efeito,
até despontar de teus tenros lábios,
como seis letras vazias que introduzem o pecado.
Tu me fazes e desfazes com sutis timbres,
tuas palavras uníssonas despertam minha existência.
Sou transformado a cada momento em que
confirmas minha vida exercitando minha alma.
Sou o pecado em teus lábios,
O Deus acima de nós me pune por tal leviandade,
a leviandade de ceder minha essência a um mortal.
Traí Deus, traí o espírito superior,
ambos invejam aquilo que possuo,
invejam minha matéria de salvação.
Eles me amaldiçoam por não mais possuírem a minha alma.
Pois alcançei a plenitude não com Suas orações,
mas com o inevitável ardor que me fazes sentir
tão bem.
Vem, dá-me tua mão
- minha alma já tens acorrentada.
Vem, estamos esquecidos por Deus,
podemos andar sem um olhar inquisidor sobre nossas costas.
Podemos andar sem o peso do juízo,
podemos andar sem o martírio divino,
podemos andar juntos livremente,
passo sobre passo,
em direção ao Inferno.
Rafael Souza Barbosa.
Digo-te com brutalidade porque tenho necessidade de dizer.
As palavras emergem com uma facilidade assustadora,
eu sei,
mas, se não as deixasse emergirem,
acabaria por trair minha espontaniedade.
E, por trair minha espontaniedade,
eu trairia aquilo que tu me fazes sentir
- és meu meio de expressar amor.
Também sou teu meio, teu incerto meio,
sirvo para algo que ainda não sei bem.
Sou um nome qualquer, sem causa ou efeito,
até despontar de teus tenros lábios,
como seis letras vazias que introduzem o pecado.
Tu me fazes e desfazes com sutis timbres,
tuas palavras uníssonas despertam minha existência.
Sou transformado a cada momento em que
confirmas minha vida exercitando minha alma.
Sou o pecado em teus lábios,
O Deus acima de nós me pune por tal leviandade,
a leviandade de ceder minha essência a um mortal.
Traí Deus, traí o espírito superior,
ambos invejam aquilo que possuo,
invejam minha matéria de salvação.
Eles me amaldiçoam por não mais possuírem a minha alma.
Pois alcançei a plenitude não com Suas orações,
mas com o inevitável ardor que me fazes sentir
tão bem.
Vem, dá-me tua mão
- minha alma já tens acorrentada.
Vem, estamos esquecidos por Deus,
podemos andar sem um olhar inquisidor sobre nossas costas.
Podemos andar sem o peso do juízo,
podemos andar sem o martírio divino,
podemos andar juntos livremente,
passo sobre passo,
em direção ao Inferno.
Rafael Souza Barbosa.
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